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Conversas Comigo própria

Conversas de muita coisa... Já que não conversam comigo... Converso eu comigo própria!

Conversas Comigo própria

Conversas de muita coisa... Já que não conversam comigo... Converso eu comigo própria!

23.03.06

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thathys
Mera e querida recordação

Antigamente o Largo era o centro do Mundo. Era o centro da Vila Sim, o Largo era o centro dos acontecimentos, das festas, de tudo! O Largo agora é apenas uma mera recordação querida que eu guardarei para sempre!
Naquela altura em que eu era adolescente ah! Aquele Largo onde no centro havia um lindo chafariz onde sereias largavem água para os peixes. Onde um grupo de adolescentes se encontrava para olhar e meter-se com as meninas que passavam por lá...
Nos anos sessenta tudo era diferente! As meninas só podiam sair à rua acompanhadas da mãe ou de um grupo de meninas, mas sózinhas isso nunca! Mas naquele Largo havia de tudo, desde bailaricos no Verão, à venda de quadros, pipocas e farturas.
E foi naquele Verão de 62 que o vi. Um rapaz diferente de todos os outros: observava, não dizia piropos nem se metia com ninguém. Era alto, bem constituído, ombros largos, um sorriso lindo, olhos e cabelos castanhos. Eu, bem, eu era um tipo de rapariga diferente de todas as outras: os meus pais dava-me a independência de sair sózinha à rua e tinham confiança em mim. Eu era alta, um pouco magra, com olhos verdes e cabelos castanhos claros e penso que naquela altura era um pouco timida.
Foi num dia quente de Verão que, encostada ao chafariz, comendo um gelado, ele falou comigo. Numa voz terna e meiga apresentou-se dizendo chamar-se João e eu apresentei-me também. Falámos sobre tudo! Desde livros até às cores preferidas e descobrimos que tinhamos tudo em comum. A partir daí o Largo transformou-se no centro do Mundo, onde nascera um amor longo e lindo. Ele, para mim era o príncipe montado num cavalo branco que me salvaria dos perigos do mundo, da realidade. Mas não, ele me fez "ver" o que era o mundo, o que era a realidade e me fez compreender como o mundo era lindo! Ás vezes, escapulia-me de casa, à noite, para ir ter com ele ao Largo e à luz da lua líamos poemas, livros que nos deixavam a suspirar...
Depois veio o beijo que selou o nosso amor, o tornou maior e mais intenso, difícil de ser destruído. Mas naquele tempo o Largo era o centro da Vila e facilmente descobria-se tudo. Ele apresentou-se aos meus pais e pediu-lhes a minha mão em casamentoa qual foi aceite. E passdos três anos, casámo-nos e todos os anos comemorávamos o dia em que nos encontrámos no Largo. Mas chegou a palavra progresso que significa aos olhos dos outras pessoas riqueza que fez destruir o chafariz e tornar o Largo num prédio. Agora o centro do Mundo, o querido Largo encontra-se imortal em quadros e fotografias apenas. Mas a recordação é mais forte e mais bela, porque nós sabemos as histórias que aconteceram lá e que poderiam ter acontecido. É pena. Antigamente o Largo era o centro do Mundo. Era o centro da Vila. Agora nos nossos dias é apenas uma mera e querida recordação.

Nota: Esta história não é verídica. Se tiver errado algum comportamento daquela época não tenho culpa, porque foi tudo mera imaginação.

In some time ago... 28/04/92
 Posted by Picasa